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Editorial Lapsus nº016

Quem faz sentido é soldado

Mario Quintana

A escrita de textos em psicanálise se difere bastante da escrita de um artigo científico. Se no artigo o objetivo é que a teoria oriente a prática, na psicanálise não, é a clínica que norteia toda a teoria.

Dessa forma, em psicanálise, a técnica não é suficiente para escrever um bom texto. É necessário que haja uma escuta clínica anterior e um desejo em transmitir algo daquela experiência. Para isso, é preciso sair da mera repetição de um conhecimento para se ter uma produção própria que aponte para a verdade do sujeito. Apesar de sabermos que nada disso é tão preciso.

Sendo assim, quando se escreve, algo circula e ultrapassa a dimensão de uma simples mensagem. Lacan no seu texto sobre a carta roubada de Edgard Allan Poe ressalta que la lettre1 não tem importância pelo que diz mas como testemunho do dizer. Durante todo o conto de “A Carta Roubada” não sabemos nenhuma notícia sobre a mensagem da carta, apesar dela ser o personagem principal.

O conto de Poe e a psicanálise colocam o sem-tido de lado. Embora o conto, assim como os textos, siga um começo- meio-fim, podemos perceber que nesse dizer também se desenvolve uma história sem-dito. Há uma supremacia da lettre sobre seu conteúdo.

E é no entendimento de que a produção literária opera a partir do sem-sentido e aponta para a forma como são arquitetados os significantes, que esta publicação se dispõe em ser um espaço para que as elaborações dos associados tenham lugar, com seu estilo, sempre a partir do desejo de cada um.

Ao contar algo, também é possível que ocorram lapsos e no editorial da edição passada trocamos o número da nossa edição. Não contando como erro esse lapso, foi possível colher efeitos daquela “quebra na escrita”. Assim, agradecemos aos nossos atentos leitores!

E para finalizar, entendendo que a Lapsus não existiria se não fossem os escritores e que escrever ocupa um lugar diferente para cada autor é que nessa edição perguntamos para algumas pessoas próximas do IPB: “O que é escrever para você?”. Além desse trabalho, contém nessa décima sexta edição: o texto “Sintoma e o Real do trauma” de Paula Goulart, “A tinta inexistente” de Anderson Viana e “Narcisismo e obesidade” de Andréa Pato, além de um interessante b@te-bol@ com Hugo Freda e uma poesia do Ferreira Gullar.

Cada leitor está convidado a fazer uso da Lapsus e pôr algo de si naquilo que lê.

Boa leitura!

Wilker França – Associado do IPB

 


1 Equívoco homofônico em francês que significa carta e letra.
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