Entrevista com Fernanda Otoni Brisset Membro da Escola Brasileira de Psicanálise e da Associação Mundial…
Editorial Lapsus #22
Rogério Barros (Editor)
Pandemia! Covid-19! Um stop no mundo organizado pela nossa realidade fantasiada, e uma nova normalidade já se apresenta, não sem efeitos de estranhamento. Fomos invadidos pela tecnologia para nos mantermos enlaçados em nossos desejos decididos pela causa analítica e passamos, agora, aos atendimentos, supervisões e atividades de formação no modo on-line. O espaço de um lapso se mantém nessas novas trincheiras, ou foram reduzidos a delays da intermitência da internet? Como manter viva a teoria da clínica e os espaços de investigação epistêmica na psicanálise de orientação lacaniana em tempos de isolamento de corpos?
Foi partir dessas e de tantas outras inquietações que a edição de número 22 inicialmente foi embrionada. Entretanto, lançada a chamada para submissões, percebemos que a despeito da contingência viral que reduziu os encontros presenciais o desejo de saber e a causa que incita a escrita se manteve viva no Instituto, garantindo o espaço da Lapsus como um condensador de artigos de temas livres e resenhas de livros. Apocalíptica, mas nem tanto, esta edição se realiza na aposta de cada autor na escrita singular, poesia possível em tempos de um real que nos agita extimamente.
Abrimos a edição com as entrevistas feitas pela Equipe Lapsus à Fernanda Otoni Brisset e à Sandra Grostein, membros da EBP e da AMP, sobre as peculiaridades da psicanálise lacaniana no modo on-line.
Na seção de textos, reverbera a pluralidade dos interesses. Alessia Fontenelle, a partir da arte auto retratista de Frida Kahlo, sinaliza o impossível de representar na imagem, testemunhando a estranha relação que se estabelece entre a pintora e a imagem do corpo devastado. Um corpo sem gozo, pacificado e silencioso é trabalhado por Rogério Barros como o delírio da tecnociência atual. Giovana Mesquita nos convida a apreender o quê de infamiliar transborda da tela do cinema através do real imposto pelo covid na atualidade. Fátima Sarmento aborda o Édipo, a histeria e a neurose sem Édipo no tempo do declínio da função paterna. Ricardo Gusmão afirma que os momentos iniciais do filme apresentam a trama, momento de fisgar o público, assim como atual situação pandêmica, no qual ultrapassamos os momentos iniciais, a trama comum, e nos deparamos com o estranho e o imponderável. Tânia Porto interpreta o momento da pandemia do novo coronavírus como um encontro com o insuportável do real, assim como se dá no despertar dos sonhos, tal qual Lacan o propõe. Delza Gonçalves analisa o documentário “Elena” da Petra Costa a partir da psicanálise lacaniana ressaltando o luto e o feminino. Glauco Morais destaca as mutações do amor no discurso capitalista como uma nova e fundamental forma de laço diante da horizontalização da sociedade. Ivone Mello, ao abordar o tema do sinthoma, o articula a escritura do real, fazendo com que o trabalho clínico com a palavra exija um mais além do sentido. Pedro Ivo das Neves, em seu ensaio, traz considerações sobre atendimentos on-line pautados nos princípios da psicanálise de orientação lacanaina, apontando que seus efeitos ainda serão recolhidos a posteriori. Graziela Vasconcelos faz um percurso articulando a questão da angústia em tempos pandêmicos, os sintomas obsessivos e o desejo, que ela propõe como um antídoto.
Na seção de Intercâmbio, Catherine Meut e Mathieu Siriot apresentam os princípios e aplicações da psicanálise de orientação lacaniana no acolhimento da intervale-cap1, dispositivo parisiense de psicanálise aplicada. Pauleska Nobrega, na sua produção, aborda que o gozo vivido no laço social de uma pandemia não é o mesmo de antes.
Sobre o método da Disciplina do Comentário, Marcelo Magnelli, Bruno de Oliveira e Vanessa Serpa Leite retomam questões sobre o novo normal psicanalítico on-line, abordando os temas da sessão obsoleta, do divã e da presença do analista a partir de textos de Antelo, Alberti e Miller.
Por fim, fechamos esta edição com as resenhas de Wilker França, sobre o livro O ser e o gênero: homem/mulher depois de Lacan de Clotilde Leguil; Bruna do Vale, sobre o livro Mulheres e discursos de Marie-Hélène Brousse; e Daniela Araújo e Vanessa Leite sobre duas conversações de laboratórios do CIEN, realizados de modo on-line.
Desejamos a todos uma boa leitura!